Hoje em dia, é comum encontrar pessoas que não saem de casa sem levar consigo um verdadeiro pacote eletrônico, com celular, notebook, tablet, tocador de MP3 e vários outros gadgets. Ter que transportar também o carregador de bateria de cada um desses aparelhos é, portanto, algo, no mínimo, incômodo. Visando conquistar esse nicho de consumidores, designers, estilistas e empresas de tecnologia têm desenvolvido carregadores de aparelhos eletrônicos que usam painéis para captar energia solar, armazená-la em uma bateria e transferi-la para os mais diversos tipos de aparatos tecnológicos. Toda essa funcionalidade é aliada à estética dos carregadores “sustentáveis”.
O designer francês Vivien Muller, criador da Electree — um carregador solar em formato de bonsai —, afirmou ao Correio que sua inspiração para o objeto veio ao observar as árvores. “A natureza tem selecionado, durante milhões de anos, as estruturas mais eficientes para capturar energia solar. O formato das árvores é o melhor meio de obter vantagem desse tipo de energia, já que suas folhas são painéis solares naturais”, descreve. A ideia de elaborar o bonsai se intensificou enquanto o designer estudava geometria dos fractais. “Eu queria repetir a estrutura de uma árvore, mas queria que a Electree fosse um produto também com função decorativa, para ser colocado em um ambiente fechado, como a casa ou o escritório. Assim, resolvi fazer um bonsai que recarrega aparelhos eletrônicos.”
O carregador é dividido em módulos, para que o consumidor possa deixar o objeto no formato que desejar. No lugar das folhas, localizam-se 27 painéis que captam a energia do Sol, a transformam em eletricidade e a transferem para dispositivos móveis por meio de um cabo USB. “Com os módulos, a pessoa pode otimizar a orientação das células fotovoltáticas, aumentando sua efetividade”, ressalta Muller, que buscou usar meios estéticos para tornar o dispositivo o mais prático possível.
Cesar Cardoso, 37 anos, analista de tecnologia da informação (TI), tem seis aparelhos eletrônicos que precisam de bateria. Ele gostou do conceito do bonsai de Vivien Muller. “Eu usaria a Electree e a colocaria num lugar bem iluminado da casa, para poder ser uma estação de carregamento”, afirma. Para o analista de TI, “carregadores que usam energia solar são uma grande ideia, especialmente num país ensolarado como o Brasil”. Cesar pondera, no entanto, que, se as baterias e células solares não forem muito eficientes, fica difícil usar os carregadores para algo mais que uma emergência.
Mochilas e pastas
O diretor de operações da empresa norte-americana Voltaic Systems, Jeff Crystal, contou ao Correio que os produtos de sua companhia são voltados exatamente para produzir e armazenar a própria energia, de modo que as pessoas possam usar e recarregar gadgets em qualquer lugar. Ele relata a história de uma das criações mais recentes do grupo, a pasta com carregador solar de laptop Generator, que classificou como curiosa. “O fundador da companhia, Shayne McQuade, estava passando um feriado na Espanha, mas estava tendo problemas com um pequeno carregador solar que tinha comprado. O aparelho não produzia muita energia e McQuade constantemente se esquecia de deixá-lo do lado de fora da mochila para que ficasse no Sol”, lembra. “Então, ele veio com a ideia de integrar painéis solares a uma pasta para que, sempre que houvesse Sol, ele pudesse coletar energia para carregar celular, laptop e outros dispositivos”, explica.
Crystal ressalta que a parte mais interessante de ter criado a Generator foi elaborar o desenho do painel solar. “Nós usamos células solares muito eficientes para obter e armazenar a maior quantidade de energia em um pequeno espaço”, assegura. A expectativa do diretor de operações da Voltaic Systems é que essa criação ajude as pessoas a terem mais mobilidade, com mais capacidade para trabalhar e se comunicar em localidades onde normalmente não teriam acesso a eletricidade. Para isso, a pasta possui 15 adaptadores diferentes, a fim de carregar qualquer tipo de dispositivo eletrônico.
O famoso estilista norte-americano Ralph Lauren foi outro que aderiu à sustentabilidade. Ele desenvolveu para sua linha esportiva, a RLX, uma mochila equipada com quatro painéis solares que, se totalmente carregados, são capazes de gerar eletricidade suficiente para completar a bateria de um celular como o iPhone em aproximadamente três horas. Disponível nas cores laranja e preta, a mochila é feita de material à prova d’água, o que dá mais segurança a quem a usa.
O ponto negativo de todas essas inovações, como já era de se esperar, recai sobre o bolso do consumidor. Enquanto a Electree não sai por menos de US$ 370 (R$ 693), a pasta Generator custa US$ 599 (R$1,1 mil) e a mochila da Ralph Lauren, US$ 800 (cerca de R$1,5 mil). Para o estudante de geografia Ricardo Aranha, 22 anos, esses dispositivos ainda não conquistaram maior alcance na sociedade porque quem os projeta não pensa em abaixar o preço. “Como é caro, pouca gente compra. E, assim, o criador fica sem o feedback para saber se o produto deu certo ou não, além de ver no que pode melhorar.”
O jovem acredita ser importante ter alguma alternativa à energia elétrica para recarregar o número crescente de gadgets que as pessoas vêm adquirindo. “Ainda mais porque, com o grande número de utilidades que os aparelhos têm, a duração da bateria tem sido um problema”, destaca. O universitário inclusive já possui um carregador portátil de bateria que funciona com energia solar. Não é uma peça com valor estético, mas não foi isso que despertou o interesse de Ricardo na hora de adquirir o produto. Segundo o estudante, o que importa é que o carregador, que comprou pela internet, o ajuda a não ficar sem bateria mesmo quando vai a lugares onde não há tomada.
Ricardo admite que tem muita vontade de comprar uma mochila com painéis solares, mas até hoje não encontrou uma que achasse viável. “As que parecem boas e resistentes são muito caras. Outra questão é que as que pensei em adquirir tinham células solares excelentes, mas o material da mochila era de qualidade ruim.” Ele completa que tampouco viu uma mochila ou pasta projetada para ser usada em ambiente urbano, com placas protegidas — a fim de evitar chamar a atenção de assaltantes. Cesar Cardoso define a funcionalidade de cada um dos carregadores: “O Electree é bom para ter em casa, mas precisa estar num local bem iluminado. Já a mochila da Ralph Lauren é boa para viagens, mas não poderia carregar a bateria de um laptop. Por sua vez, a Generator é ótima para quem carrega laptops, mas, para quem não os usa, tenho minhas dúvidas”.
Pedacinho por pedacinho
Os fractais são objetos geométricos que, se divididos, suas partes menores têm estrutura semelhante à forma do objeto original. A geometria dos fractais é a área da matemática que estuda essas propriedades. Esse tipo de geometria tem aplicações na medicina, no desenho de antenas — as de celulares, por exemplo, são fractais — e fibras ópticas, entre outros. No caso da aplicação da geometria dos fractais na natureza, é possível usá-la para entender o desenvolvimento das plantas. Foi essa observação, para transformar o conceito de uma árvore em um objeto sintético, que o designer francês Vivien Muller fez.
Há quatro anos
Uma das precursoras da união entre moda, gadgets e energia solar foi a empresa de moda italiana Ermenegildo Zegna, especializada em vestuário masculino. Em 2007, a companhia fabricou uma jaqueta de ski com painéis solares na gola, para a coleção de roupas esportivas da temporada primavera/verão 2008. A Solar JKT, fabricada em microtene, transforma a energia solar em eletricidade e pode guardá-la em uma bateria ou carregar um dispositivo eletrônico diretamente.
(pernambuco.com)
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