quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Conta de luz cara viabiliza energia solar no país


A eletricidade subiu no telhado
A cara conta de luz que o brasileiro paga tem só uma vantagem: está viabilizando a energia solar no país. Sua produção descentralizada é estratégica. O que falta agora é uma indústria nacional e isso exige tecnologia e inovação. O governo começa a se dar conta disso.
A reportagem é de Luciana Christante - UNESP
SUSPENSO NO ESPAÇO a cerca de 150 milhões de quilômetros de distância da Terra, o Sol é a maior usina de energia do Universo e responsável por todas as formas de vida, direta ou indiretamente. Transformar sua luz em eletricidade é uma ideia perseguida desde os tempos de Thomas Edison. Mas o desafio de construir a primeira célula solar (também chamada fotovoltaica) só foi vencido nos anos 1950, dentro dos legendários Laboratórios Bell, nos Estados Unidos. Desde então físicos, engenheiros, e mais recentemente empresas e governos de alguns países, pressionados pela necessidade de fontes energéticas sustentáveis, esforçam-se para tornar esse dispositivo mais eficiente e principalmente mais barato. Estão sendo bem-sucedidos.
Em maio passado, metade da energia elétrica consumida na Alemanha foi produzida graças à luz do sol que incidiu sobre painéis fotovoltaicos. Itália, Espanha, Japão e Estados Unidos também dão mostras de que essa tecnologia chegou para ficar. Se o leitor já estiver se perguntando o quão atrasado o Brasil está nessa história, vale dizer que o lugar mais ensolarado da Alemanha recebe 40% menos radiação que a Região Sul, onde se registram os mais baixos índices solarimétricos do território brasileiro.
É preciso lembrar também que a China é o maior produtor de painéis solares, mas boa parte da principal matéria-prima usada neles, o silício, sai de reservas de quartzo brasileiras, que estão entre as maiores do mundo. Exportamos o silício bruto e barato para ter de importá-lo na forma de um produto de altíssimo valor agregado. É exatamente o que faz a única empresa nacional nesse ramo, uma montadora de painéis solares localizada na cidade de Campinas (SP).
Apesar disso, os pesquisadores brasileiros da área de energia solar estão bastante otimistas, entre eles o engenheiro elétrico Marcelo Gradella Villalva, pesquisador da Unesp em Sorocaba. “O preço dessa tecnologia está ficando competitivo no país e o governo parece estar acordando para nosso potencial fotovoltaico”, afirma.
São duas as razões pelas quais a energia solar está economicamente mais atraente no Brasil, explica Villalva. Uma é a queda de até 80% no preço dos painéis na última década, graças à produção em larga escala principalmente na Alemanha e, mais recentemente, na China. A outra razão, embora neste caso nos beneficie, nem de longe nos orgulha: “A energia elétrica no Brasil é uma das mais caras do mundo”, completa o pesquisador.
Depois de calcular a razão entre o preço médio da eletricidade pago pelos brasileiros e a cotação do painel fotovoltaico no mercado internacional, a Bloomberg, agência de notícias para o mercado financeiro, divulgou em março um estudo no qual o Brasil atingiu a chamada “paridade tarifária” para a energia solar, uma espécie de padrão ouro que indica competitividade econômica. Em outras palavras, cobrir o telhado com painéis solares já estaria valendo a pena em nosso país.
Deitado em berço esplêndido
O mais curioso, entretanto, é que a paridade tarifária no Brasil foi alcançada ao mesmo tempo pela Alemanha, de longe o país onde a energia fotovoltaica está mais desenvolvida. Na década passada, o governo alemão manteve generosos incentivos para seus cidadãos adotarem a tecnologia e fez maciços investimentos para criar uma cadeia produtiva nacional robusta. Agora está colhendo os frutos, em plena crise europeia.
Já o Brasil chegou a esse ponto “deitado em berço esplêndido”, analisa o engenheiro civil Ricardo Rüther, pesquisador da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). “O governo não investiu nada para atingir essa marca”, diz. “Esperou o preço [dos painéis] cair e agora está ganhando de bandeja [a paridade tarifária]. Mas ficou para trás na tecnologia. Temos de importar tudo e os impostos para isso são altos.”
(direct-connect.projetobr.com.br)

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